...eu não consigo mais ler.

(cartas de uma ilha para outras)


Para minha motorista...




Eu fui seu ultimo passageiro.

Eu agora sou aquele que entra no carro vazio e gasta todo o dinheiro que tem apenas pelo prazer de viajar pela estrada. Eu sou aquele que nunca aprendeu alemão, nunca visitou a Bulgária, nunca subiu num prédio com mais de quarenta andares, mas eu estou aqui nesse carro, e no momento somos só eu e você. Eu lhe peço - com meu olho escorrendo um por favor pelo canto esquerdo. "É tudo o que eu tenho, mas vamos embora daqui, vamos para outra cidade, veja, é o que resta que eu achei" u te digo enquanto tiro uns trocados amassados do bolso junto com três ou quatro moedas. "Essa cidade é grande demais para nós, precisamos de algo menor, que nos esquente mais".

E passamos por estradas, inventamos canções apenas para nos entre-olharmos de vez em quando, enquanto a linha parece ser demasiado reta e sonifera. De vez em quando passaremos por uma placa, e daremos pulos altos apenas para muda-la de direção, apenas para ter certeza que nunca nos sigam. E os motoristas que vierem atrás, provavelmente vão chegar no seu destino de qualquer maneira.

Mas não serão tão felizes quanto nós, em nosso lugar pequeno e sagrado.

E no nosso destino, naquela cidade tão pequena, tão cheia de cavalos, carroças e passos largos, nós nos abraçaremos dentro do carro, minha motorista, e todas as pessoas ao redor irão nos olhar com estranheza, deixando os passos mais curtos, afundando os pés dentro das meias e se perguntando porque aquele enorme carro preto, cheio de terra, solitário, tão cheio de aço e com uma placa que diz que vem de São Paulo, está fazendo ali?

Importa pra eles?

Importa?