Faz tempo que não escrevo.
E então um pintor torto, do tipo daquele que corta orelhas, falou para mim uma vez.
Vai ser tinta na vida.
Me colocando em todo canto que alguma fresta possa enganar.
Fazendo de conta que enquanto eu escrevo, eu posso pintar qualquer palavra que ninguém ainda conseguiu decifrar.
E em latitudes cavalares eu te digo.
Meu nome é Thiago.T-h-i-a-g-o.
Nascido em mil novecentos e oitenta e sempre.
Numa agonia carinhosamente muda, e selada por cima.
Em um galope imaturo e tenso.
Sou um ateu de São Paulo.
No violão, eu tenho fé.
Então, não me batam.
Meu único crime, se um dia for provado.
Foi ter sido eu.
E eu não estou aqui. E isso não está acontecendo. E a tinta nunca seca.
por remetente.
Post-It grudado na pele para uma menina circense...
Porque o nosso espetaculo é melhor ainda quando o circo está claramente obscuro.
E debaixo dos nossos cobertores, achamos toda e qualquer luz que foque no ator principal.
E ela se dissolve pelo quarto, como seu perfume,
Entrando em cada fresta obscura
E assim inebriando nossa platéia:
O mundo.
E eu quebro em meu corpo todas as lampadas e com elas cravo na minha pele seu nome.
E com a cera dos candelabros, eu lhe proponho o que te consome.
Para que o tempo não nos traia.
E o relógio das nossas peles continue em sua passagem pulsatil pelo picadeiro que apenas a gente conhece.
por remetente.
Para uma certa moça (2)...
Ah, agora sim. Porque no final das contas somos só eu e você. Eu com minha mão, e você com seus olhos. Claro que há um bocado de sentimento, tanto quanto nas rugosidades dos meus dedos, como nas veias do seus olhos, que correm por essas linhas fazendo-te imaginar que estou falando contigo cara-a-cara.
E é sempre assim que começa uma carta. Eu poderia ser pedante e termina-la aqui mesmo.
(...em outro ponto final.)
Mas essa carta é só mais uma vitima, e pontos finais são os assassinos. Cabe a mim - minha mulher - não coloca-los, e a você, não descobri-los; que talvez eles sejam só mais um eufemismo para nossa distância.
É, eu acho que minha carta começa aonde minha saudade começa também. Mas é uma corrida injusta. É como se os pontos pudessem parar, quando quisessem, de saltar as virgulas que ajudam a respirarmos (e é aqui que você bate com a lingua nos dentes, e faz os seus biquinhos que eu tanto adoro, se estiver lendo isso alto), mas minha saudade por ti não consegue saltar os minutos, as horas, o sol que nasce, que se poe. Ela não consegue pular as barreiras do horizonte e cair de joelhos perante ti com as mãos para cima, e implorar numa especie de ronronar "Fique comigo, por favor".
É, eu sei que você sabe o tanto quanto eu o quanto o amor pode ser piegas.
E esta saudade cresce como um gosto tartaro na minha boca. Gosto de combustivel queimado, o mesmo combustivel que me dá vontade de continuar escrevendo cada veze mais letrinhas, e frases, e paragrafos, e tudo isso... em vão. Apenas para dizer o quanto EU TE AMO. O mesmo tanto que você vê em cada caracter e em cada ponta do meu carater. O mesmo tanto quanto eu digo todas as vezes o quanto o seu cheiro tem cheiro de coisa doce, feliz e do mar. Como da sua boca pingam gotas de chocolate, e onde meus nervos ficam em blackout exaustos com sobrecarga motinando cada sentimento ruim que eu tinha, para bem longe de mim e de você. E para mais perto dos piratas do espaço, que roubam o ar que nos separa, criando um vácuo, encurtando as nossas distâncias, e ateando mais nós em nossos laços. Que são catequizados em nossos abraços nós de pescador. Pois tudo aqui é amor.
E como eu lembro seu cheiro, meu amparo mais exato. Como me faz ficar de joelhos, coisa que nenhum Deus ou Demônio conseguiu fazer. Eu abro minha guarda, sou todo seu. Pode pegar sua arma, que vamos duelar, e você sempre irá sair vencedora, porque só o odor que sai dos seus canos fumegantes, já é o suficiente para dizer "Pode mirar".
(...e como eu lembro do seu cheiro!)
(...mas como eu lembro do seu cheiro?)
(... eu apenas lembro do seu cheiro.)
Por mais que perfumes tentem com seus alquimistas propagar novas formas de forjar a sedução, plagiando a natureza em suas camas feitas, por mais que os fabricantes de shampoos prometam para mim que quando eu passar a mão pelo seu cabelo eu sentiria o cheiro das primeiras horas da manhã, e o gosto da brisa suave do vento que a acompanha, nada - meu amor - NADA supera o cheiro que eu só encontro quando procuro cada pedacinho escondido entre seus seios, enquanto fuço nos meus instintos os mapas cartograficos do seu corpo.
Porque, esses sim são reais
E sabe porque são reais?
É porque eu não sabia de nada. Eu nunca soube. Dentro do sagrado jogo de cartas que você joga, eu nunca fiz nenhum Royal Flush, porquê para meus sentimentos eu não sei flertar.
Eu só sei do que sei e nada mais. É o suficiente? Imagino que sim.
Eu sei o quanto era ruim não saber o gosto dos seus labios, não saber como eu me acoplava perfeitamente em seu corpo, não saber o que era acordar todo dia e ver covinhas sorrindo e saltitando para mim, quando pegam no meu rosto, me dão um beijo e dizem candidamente "Bom Dia, Meu Amor" Eu não sabia.
Eu não sabia como poderia alguém ter tudo o que eu quero na minha vida, comprimido em pouco mais de hum metro e sessenta.
Eu não sabia como alguém poderia me aguentar tocando meus acordes desafinados, durante noite e dia.
Eu não sabia realmente o que era ser feliz.
E agora que eu sei, meu amor, é ruim.
É ruim pra caralho.
Porque eu não a tenho o tempo inteiro, e esse o motivo dessa minha carta.
E é esse o motivo da minha saudade. Esse é o motivo de eu voltar à minha mesa e escrever essa carta para ti. E também o motivo de eu ter abelhas zanzinzonzeando meu coração, e ter uma cobra percorrendo minha coluna.
E dizem que é exatamente assim não é? Os pássaros só retornam, quando o cachorro morre.
E minhas palavras só voltam a mim, redundantes como sempre, quando você está distante de mim.
E eu lhe agradeço por sua honestidade ser realmente honesta, e por sua gentileza realmente ser gentil. E eu espero que todos achem o que eu achei. Em outras pessoas, é claro.
Porque eu achei o que é meu, em todo lugar que eu olho eu vejo que sim, eu achei você perdida, e guardei aqui, dentro de mim.
E vamos ficar perdidos juntos.
Porque acredite, meu amor, é divertido.
(e esses calendários, não param de perder folhas...)
Sinceramente.
Seu Marido.
por remetente.
Para uma maçaneta...
Deixo na porta minhas desilusões, pois sei que elas são frutos da minha auto-insuficiência. Tem gente que gosta de dormir, para esquecer tudo o que aconteceu. Como se num piscar de olhos, ou num gesto simples de amor, tudo pudesse ser curado; desde aquela dor de cabeça que te deixou atordoado, até mesmo a lua que insiste em ficar pendurada lá no alto. Mas ela não irá descer, enquanto você acreditar que ela é seu único amor. Pois ela ama todos, mas é uma alegoria, e só anda com quem realmente sabe o sentimento que ela resgata, quando existe muita dor. E o tempo entre um torpedo que atravessa a humanidade, ou uma folha caindo ao vento, relativamente, é o mesmo. O seu fechar dos olhos, a lágrima que cai do seu rosto, as palavras rabiscadas num papel molhado, esse espasmo de palavras, num soluço engasgado. Nada disso irá fazer você ficar bem.
Deixo na porta meu tempo, pois sei que tentar matá-lo, não irá acabar com esse tormento. O melhor à fazer é domá-lo, e mostrar para ele, que não é ele que passa, sou eu que estou passando por ele, vendo o dia morrer entre minhas mãos, contemplando a escuridão. Nós chegamos tarde demais, nossas bocas estão arfando, mas enquanto ele continuar na minha cabeça, será ele que estará me domando. Não posso deixar meu medo por ele, tomar conta de mim. O mundo vira as costas quando você aperta o botão da sonolência, e aquela história tão penosa que você está escrevendo, ninguém lerá, com certeza.
Então deixo minha anuência na porta, e que ela fique lá de braços cruzados, esperando qualquer traço de arrependimento, concordando com a mente, que reclama com o corpo, que conclama os meus sonhos, e todos os sentidos postados perante mim. Quanto tempo faz, que ninguém te vê chorar? E olhando assim, até que não é tão ruim. Olhando assim, não é um derrotar, mas só você sabe até onde você pode chegar. Porém, quero seus beijos, com certeza de que com eles empunhados em meus dentes, posso lutar, pela língua que mais explora, pela saliva que mais demora para nos dominar.
Deixo essas palavras por aqui, neste momento que o corpo queda, e que os dedos já não sabem qual direção devem seguir, apenas tendo certeza de que se seus olhos refletem o luar, as nuvens dos meus, sem duvidas, podem te completar. Eu ainda estou aqui, se você quiser, com minha lanterna, e minha capa de chuva, que tenta me proteger das lagrimas que caem perenes do seu olhar. E está vendo aquele cavalo ali, maltratando aquela flor, que está sendo pisada e despetalada? Mais cedo ou mais tarde, todo cavalo selvagem, irá ser domado, e alguém irá poder cavalgar.
E por essa porta, alguém irá passar.
(De uma antiga ilha, para essa nova)
por remetente.
Para uma contadora...
Mas, o preço não é sempre mais barato que tudo?
Então deixe as mãos vazias da ganância aplaudirem
Você que fez o acordo, você que sabia o quanto iria custar
Então, me diga, se tudo foi tão planejado
Quero tudo aquilo de volta
Tão intrinsicamente orquestrado
Você realmente sabia o quanto o preço iria custar?
Talvez depois de um tempo
Você não saberá diferenciar
Se você está precisando de alguém pelo prazer
Ou apenas para barganhar
O tempo, os termos, o preço...
Você, que sabia a fortuna da companhia
E agora sabe a quebra da rotina
Vá bravamente para a janela e faça-se sentir
Diga que não há diferença entre as palavras e o vinho
E que nesse meio termo, não há motivos
Renda-se à honra dos seus álibis perdidos
A oferta e o corpo dos sacrifícios
E ouça os aplausos dos que não entenderam o que foi dito
E nunca entenderão nada disso
Foi sua vida que foi tocada
Foi sua trilha circundada
A palavra que falhou
A sorte que foi amaldiçoada
Tão invisível
Mas tão nua para meus sentidos
Mais cedo ou mais tarde você precisa se livrar
De tudo aquilo que você não consegue mais controlar
Começa com a sua família, passa pelas suas vontades
Esbarra em suas faltas, e termina na sua alma
por remetente.
Para minha titã...
Para que você nunca saiba o quanto sou infeliz
E eu vou roubar o fogo dos titãs hoje
Para acender as velas do seu altar, onde - em obediencia;
Eu trabalho durante a noite, então;
Eu irei cantar para a lua descer
Para que você veja a perfeição como um espelho de você
Eu irei roubar as pérolas do Santo Graal
Para que você tenha jóias sempre para se vestir
Mesmo estando nua, afinal;
Eu poderei caçar lobos durante o inverno
Para que você tenha pele e carne durante o que é eterno
Eu poderei abandonar toda minha razão e sanidade
Para que você talvez saiba o que existe entre o meu amor
E o que é verdade, claro;
Que eu irei jogar palavras, com tanto sentimento nelas
Quanto um caixão jogado para sempre debaixo da terra
Que você irá me chamar para mais perto
Para dizer que seu corpo não é o que eu sinto
Mas é o que eu quero, pois;
Eu atiro no tempo, quando sua boca começa a me chamar de assassino
Eu quero que ele volte para o que era, quando tudo ainda era principio
E eu me jogo nas profundezas do Pacífico
Para resgatar uma pérola que ilumine o seu sorriso
E eu declaro guerra aos deuses do destino
Para que só então eu me convença que
Meu destino nunca esteve com eles
E sim dentro de você;
Somente em você.
por remetente.
Para você, minha cega...
E nossos olhos se cruzarão lentamente por entre as frestas dos dedos de você, que se encaixam perfeitamente em sua tez apenas para que você possa ler todas as linhas que o tal do destino lhe reserva, mas que ninguém além de você vê.
Porém por entre os passos nessa cidade, nós somos dois Aquiles perdidos na guerra, sem função nenhuma a não ser pegar os nossos caixões, e carregar nas costas, enquanto tentamos entender palavras que possam ser profundas demais para nos enterrar.
E meu coração é seu.
Eternamente.
E nós passamos por Cinderella que se perdeu pensando que estava nos braços de Romeu, mas quando na verdade estava em suas mãos. O sapato ficou apertado demais, o cabelo está curto, e ela se pergunta até hoje "Porque a fada não morreu? Porque a carruagem não se acidentou?" Mas não há tempo para questionação na cidade das palavras. Ela volta todo dia e na rotina ela acha abrigo, e todo dia ela perde um terço de sangue, vinte e nove reais e um sapato que imita pele de crocodilo em cada beco que ela vira, e acha algum casal aos abraços sem utilizar nenhum sentido.
Porém nós estamos do lado errado da cidade minha querida. Nós estamos tangenciando as fronteiras que dividem as palavras jogadas ao acaso da linha que o escritor planeja por mais da metade da vida. Tudo é tão espontaneo assim, não que não possa acabar de repente como em um sonho que você acorda e só ouve um zunido que ecoa pelos dois lados do seu cérebro sem que você se lembre do que você realmente sente. E nesse sonho nós fazemos cem quilometros por hora com quatro litros no nosso tanque enquanto premeditamos os leitos para que o acostamento chegue, e nossos olhos descansem. Mas eu ainda ouço o trovão daquela arma filha da puta que fez todas as janelas estremecerem quando atiraram na unica esperança que restava dentro dessa cidade tão nula. "Você!" - eu gritei "Porque?" e eu chorei. E eu cantei, e sorri, e uivei, e desci até o inferno da repetição, em meu sonho. E ao acordar nós abririamos um buraco na cabeça de qualquer um que passasse pelo nosso caminho.
Nunca ninguém disse que a cidade das palavras era um lugar realmente tranquilo.
E nesse meio tempo eu sofri um ataque cardiaco.
Ouvi claramente o rufo dos tambores enquanto o médico cortava em seus termos tecnicos, aquilo que dentro de mim era tão romântico e esguio.
No stacatto da pulsação em meu cardiograma, eu achei o conforto enquanto manipulo planos e planejo dramas dentro do meu coma, enquanto eu sei que sua mão está bem rente.
E meu coração é seu. Agora. Para sempre.
Intermitentemente
Sinceramente.
De...
Cada um dos rostos que você tocou.
Cada um deles, invísivel.
Tão nus para sua mão.
Tão sujos para seus sentidos.
por remetente.