...eu não consigo mais ler.

(cartas de uma ilha para outras)


Para uma certa moça (2)...


E tudo começa assim. Quando escreve com braços tão reais e firmes que o grafite se recusa a ir embora com a borracha que tenta o levar. Várias ezes eu pensei muito em como chamar a atenção das pessoas com uma palavra de impacto, ou, unma metáfora genial clocada no momento mais imprevisivel, ou, um ponto final antecipado. Não esse. O páragrafo continua. Agora sim.

Ah, agora sim. Porque no final das contas somos só eu e você. Eu com minha mão, e você com seus olhos. Claro que há um bocado de sentimento, tanto quanto nas rugosidades dos meus dedos, como nas veias do seus olhos, que correm por essas linhas fazendo-te imaginar que estou falando contigo cara-a-cara.

E é sempre assim que começa uma carta. Eu poderia ser pedante e termina-la aqui mesmo.
(...em outro ponto final.)

Mas essa carta é só mais uma vitima, e pontos finais são os assassinos. Cabe a mim - minha mulher - não coloca-los, e a você, não descobri-los; que talvez eles sejam só mais um eufemismo para nossa distância.

É, eu acho que minha carta começa aonde minha saudade começa também. Mas é uma corrida injusta. É como se os pontos pudessem parar, quando quisessem, de saltar as virgulas que ajudam a respirarmos (e é aqui que você bate com a lingua nos dentes, e faz os seus biquinhos que eu tanto adoro, se estiver lendo isso alto), mas minha saudade por ti não consegue saltar os minutos, as horas, o sol que nasce, que se poe. Ela não consegue pular as barreiras do horizonte e cair de joelhos perante ti com as mãos para cima, e implorar numa especie de ronronar "Fique comigo, por favor".

É, eu sei que você sabe o tanto quanto eu o quanto o amor pode ser piegas.

E esta saudade cresce como um gosto tartaro na minha boca. Gosto de combustivel queimado, o mesmo combustivel que me dá vontade de continuar escrevendo cada veze mais letrinhas, e frases, e paragrafos, e tudo isso... em vão. Apenas para dizer o quanto EU TE AMO. O mesmo tanto que você vê em cada caracter e em cada ponta do meu carater. O mesmo tanto quanto eu digo todas as vezes o quanto o seu cheiro tem cheiro de coisa doce, feliz e do mar. Como da sua boca pingam gotas de chocolate, e onde meus nervos ficam em blackout exaustos com sobrecarga motinando cada sentimento ruim que eu tinha, para bem longe de mim e de você. E para mais perto dos piratas do espaço, que roubam o ar que nos separa, criando um vácuo, encurtando as nossas distâncias, e ateando mais nós em nossos laços. Que são catequizados em nossos abraços nós de pescador. Pois tudo aqui é amor.

E como eu lembro seu cheiro, meu amparo mais exato. Como me faz ficar de joelhos, coisa que nenhum Deus ou Demônio conseguiu fazer. Eu abro minha guarda, sou todo seu. Pode pegar sua arma, que vamos duelar, e você sempre irá sair vencedora, porque só o odor que sai dos seus canos fumegantes, já é o suficiente para dizer "Pode mirar".
(...e como eu lembro do seu cheiro!)
(...mas como eu lembro do seu cheiro?)
(... eu apenas lembro do seu cheiro.)

Por mais que perfumes tentem com seus alquimistas propagar novas formas de forjar a sedução, plagiando a natureza em suas camas feitas, por mais que os fabricantes de shampoos prometam para mim que quando eu passar a mão pelo seu cabelo eu sentiria o cheiro das primeiras horas da manhã, e o gosto da brisa suave do vento que a acompanha, nada - meu amor - NADA supera o cheiro que eu só encontro quando procuro cada pedacinho escondido entre seus seios, enquanto fuço nos meus instintos os mapas cartograficos do seu corpo.
Porque, esses sim são reais

E sabe porque são reais?
É porque eu não sabia de nada. Eu nunca soube. Dentro do sagrado jogo de cartas que você joga, eu nunca fiz nenhum Royal Flush, porquê para meus sentimentos eu não sei flertar.
Eu só sei do que sei e nada mais. É o suficiente? Imagino que sim.
Eu sei o quanto era ruim não saber o gosto dos seus labios, não saber como eu me acoplava perfeitamente em seu corpo, não saber o que era acordar todo dia e ver covinhas sorrindo e saltitando para mim, quando pegam no meu rosto, me dão um beijo e dizem candidamente "Bom Dia, Meu Amor" Eu não sabia.
Eu não sabia como poderia alguém ter tudo o que eu quero na minha vida, comprimido em pouco mais de hum metro e sessenta.
Eu não sabia como alguém poderia me aguentar tocando meus acordes desafinados, durante noite e dia.
Eu não sabia realmente o que era ser feliz.

E agora que eu sei, meu amor, é ruim.
É ruim pra caralho.
Porque eu não a tenho o tempo inteiro, e esse o motivo dessa minha carta.
E é esse o motivo da minha saudade. Esse é o motivo de eu voltar à minha mesa e escrever essa carta para ti. E também o motivo de eu ter abelhas zanzinzonzeando meu coração, e ter uma cobra percorrendo minha coluna.
E dizem que é exatamente assim não é? Os pássaros só retornam, quando o cachorro morre.
E minhas palavras só voltam a mim, redundantes como sempre, quando você está distante de mim.

E eu lhe agradeço por sua honestidade ser realmente honesta, e por sua gentileza realmente ser gentil. E eu espero que todos achem o que eu achei. Em outras pessoas, é claro.
Porque eu achei o que é meu, em todo lugar que eu olho eu vejo que sim, eu achei você perdida, e guardei aqui, dentro de mim.
E vamos ficar perdidos juntos.
Porque acredite, meu amor, é divertido.
(e esses calendários, não param de perder folhas...)

Sinceramente.
Seu Marido.